Nem sei bem a que distância temporal está o Lavorada do dia de hoje. Parece que foi ontem, parece que já foi há mais de um mês… O que permeia um ponto e outro da linha temporal é que quantifica o tempo. Se pegamos num elemento, ele estende-se, se pegamos num outro, ele encurta-se vertiginosamente. Sei que desde o dia em que apresentei a proposta à Biblioteca até hoje muito tenho trabalhado, pouco tenho parado e este post já tarda. Hoje estou parada. Hoje escrevo. Não se escreve em andamento.
Nas redes sociais, esta e esta, partilhei fotografias do Lavorada, fui dizendo como correu, o que se passou, o que foi dito. Mas tudo ficará registado num lugar mais perene, no site lavorada.pt que está a ser construído por mim. E é neste lugar virtual que pretendo dar continuidade ao projeto até que um novo ano traga a segunda edição que, para grande felicidade minha, todos exigiram. Será lugar de promoção dos lavores, de divulgação, de aprendizagem e ponto de encontro de todos quantos queiram entrar na lavorada. Por isto, fiquem por aqui, teremos sempre muito que conversar.
yarn bomb “Salgueiro do Lavorada”
Diz-se que a ração não é para quem se talha, é para quem a merece e foi isso mesmo que aconteceu. As cerca de 140 rosetas que compõem esta instalação já estavam a ser feitas e não eram para este local. Com o Lavorada, as rosetas encontraram o lugar perfeito, eu diria que estavam destinadas àquele salgueiro sem eu saber. Tudo se conjuga na perfeição quando deixamos fluir os acontecimentos, quando não nos apressamos, impomos ou cortamos possibilidades.
São dez cores, uma por cada fila de rosetas que se enrolam em espiral à volta do tronco de um belo salgueiro. Um colorido em jeito de arco-íris que sobressai do verde do jardim da BibLioteca Municipal da Póvoa de Varzim. E ali ficará até se estragar, até ficar gasto pelos elementos, tal como qualquer arte de rua. Num outro post, partilharei o tutorial para quem quiser fazer esta roseta.
yarn bomb “S. Pedro de todas as cores”
A cidade tem no S. Pedro o seu santo popular e a ele se dedica a maior das festas. Este será o segundo ano em que as mesmas não se realizarão. A pandemia… Mas o Arquivo e Museu Municipais não quiseram deixar passar a data sem assinalar de forma diferente e colorida – cores de festa e alegria – e desafiou-me a fazer umas bandeirinhas, mesmo em jeito de festas populares, para decorar as varandas dos edifícios. Claro que aceitei o desafio, mesmo só tendo seis dias para preencher 22 metros de varandas! Claro que eu não iria fazer umas bandeiras quaisquer e meti-me deliberadamente numa obra hercúlea de fazer bandeiras rendadas com 30 e 50 centímetros de lado. Claro que tive uma ajuda preciosa, da minha irmã, mãe e pai, que, não sabendo fazer crochet, se dedicou aos frocos com empenho. Uma empresa familiar relâmpago. Dias de ininterrupto trabalho que, apesar da ameaça de tendinites, acabaram por ser de grande satisfação. Morei nesta rua 26 anos, foi um projeto especial.
embriagai-vos!
Lavorada. Yarn Bombs. Site do Lavorada. A My Beloved Craft e este site. Workshops. Encontros para lavorar. De repente, tudo surge ou ressurge. Tudo terá de fazer parte de um caminho que comecei há três anos e que pretendo continuar, o académico. Concluída que está a licenciatura, quero prosseguir com o mestrado. O que fazer com tantas coisas? Como incluir o gosto pela reflexão, leitura – tantos livros! – ouvir música de forma atenta, cuidar das plantas, ser mãe de três filhos, caminhar na natureza e dar mergulhos no mar? Disse Baudelaire: “Deveis estar sempre embriagados. Aqui reside tudo. É a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é imperativo embriagar-se sem descanso. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos.”