O Riso De Deus

Morreu no passado dia 7 de Dezembro António Alçada Baptista.

Soube por SMS. Fiquei parada, sem pensar absolutamente nada durante uns milésimos de segundo, apenas olhando aquela mensagem, “Morreu o António Alçada Baptista.”
Finalmente, pensei que já não era um homem novo…
Não devo ser diferente das outras pessoas ao achar que os que nos são mais queridos nunca nos vão deixar. Sendo eu uma desconhecida para António Alçada Baptista, não era ele para mim e por isso falo de forma afectuosa deste homem que sabia falar de afectos.

Fui para a minha estante de livros e lá estavam todos seguidos, os de António Alçada Baptista. Comecei a folhear, a procurar nas linhas sublinhadas, nos parágrafos assinalados um trecho para tentar homenagear este meu querido escritor. Mas facilmente me perdi com tanto que ele me tinha para dizer. Facilmnte me apercebi que os inúmeros temas, crónicas, todos eles eram possíveis de transcrever e lembrar o homem que falou de forma simples, descomplexada, de forma carinhosa e até ingenua e sempre tentando perceber a cor dos dias que passam.
O primeiro livro que li deste autor foi Catarina, ou o Sabor da Maçã? e fiquei logo com vontade de conhecer mais porque aqui encontrei uma maneira simples de ver o mundo, de o descomplicar falando de amor, de relações humanas como caminho para uma vida feliz.
Em O Riso de Deus, encontrei alguém que soube pôr no papel aquilo que se ia construindo na minha cabeça, na minha maturidade, palavras que me iam fazendo ser pensante, certo de ideias que procuravam o apoio do pensamneto dos outros.
Tenho um livro que reúne o depoimento de vários amigos de António Alçada Batista, desde Mário Soares até Inês Pedrosa, todos falam de uma luz especial que encontaram neste homem que soube acima de tudo viver das suas relações, valorizando o afecto, um homem que viveu, segundo ele, nunca abdicando “a liberdade, a tolerância, os afectos”.

Numa contra-capa de um dos seus livros está escrito que ler esse livro é “a descoberta de um manancial de experiência com um cariz muito próprio, muito próximo, tão pessoal no quase diálogo que estabele com o leitor.” António Alçada Baptista tinha este dom de fazer de cada seu leitor um amigo próximo. E sendo um dom não se explica, ou se tem ou se não tem. A quem souber encontrar este escritor, terá nas suas palavras o conforto que a única explicação para o mundo é o amor.

“No meio de toda a complexidade do mundo eu gostaria de conquistar alguma serenidade que me ajudasse a viver compreendendo que estamos envolvidos num universo de ignorâncias e que, sobre todos nós e o mundo, pairam ainda todos os mistérios que não sei se um dia poderemos desvendar. É isso: o enigma do homem permance desconhecido e talvez o amor seja o caminho que nos resta para nos libertarmos das ansiedades que o destino que pressentimos para o homem terá posto no nosso caminho.”

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