O que não conseguiu o Oceano Pacífico com a sua paciência semelhante à eternidade, conseguiu-o o simples e doce posto dos correios de San Antonio: Mario Jiménez não só se levantava de madrugada, assobiando e com um nariz fluído e atlético, como se lançou com tanta pontualidade ao seu ofício que o velho funcionário Cosme lhe confiou a chave do local, no caso de alguma vez se decidir a levar a cabo uma façanha desde há muito sonhada: ficar a dormir de manhã até tão tarde que já fosse hora da sesta e dormir uma sesta tão grande que já fosse horas de deitar, e ao deitar-se dormir tão bem e com um sono tão profundo que no dia seguinte sentissse pela primeira vez essa vontade de trabalhar que Mario irradiava e que Cosme meticulosamente ignorava.
in O Carteiro de Pablo Neruda, de António Skármeta