Utilizando as palavras de Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real, vivemos lamentavelmente “num mundo culturalmente naufragado” e com apenas três palavras define-se de forma sábia a nossa sociedade.
O saber não ocupa lugar e nos nossos dias este estribilho popular é tido literalmente; o saber já não ocupa lugar algum…
Há menos analfabetos e mais doutores mas não passam de papagaios sem cultura e criatividade para usar em novas situações, limitando-se a repetir o que foram decorando e ouvindo nas salas de aulas com o único objectivo de acabar o ano, fazer a cadeira, ser doutor, passar a ser o dê erre fulano de tal.
Poucos são os que se entregam ao conhecimento, a adquirir mais saber, aprender, saber o porquê. E isto porque o mundo vive a cultura da recompensa imediata, o materialismo feito filosofia de vida. Tudo seria diferente se divinalmente surgisse uma recompensa imediata e palpável assim que um livro fosse lido! As bibliotecas estariam cheias, as salas de teatro esgotadas, as exposições todas vistas…
Como se explica que a cultura compensa?! Como se explica a um “doutor” saído da universidade que não sabe nada, que não é ninguém se não for capaz de continuar a estudar pela vida fora? Que o conhecimento não é um dado adquirido? Como se mostra que a recompensa do saber é muito maior e mais importante e duradoura que os estatutos sociais, carros, casas, contas bancárias?
A sabedoria compensa diariamente, em todas as situações, minuto a minuto, segundo a segundo, mesmo que seja percebido num futuro e por alguns…
A sabedoria dá serenidade, ensina a esperar. É tolerante porque é sábia, conhece o percurso do homem. A sabedoria é cheia de criatividade e de humor!
Mas estamos assim.. numa época do toma lá dá cá. Se não dá lucro não vale a pena. E nos entretantos, a falta de cultura e os interesses exclusivamente económicos vão roubando a humanidade ao homem porque o saber também dá moral, ética, responsabilidade civil, amor ao próximo.
Sabiamente, há que saber esperar, tudo tem o seu tempo e vivemos numa roda que nos faz viver em ciclos e se estamos em crise económica é porque de uma maneira ou de outra este modo de vida está a entar num limite.
Ninguém gosta de viver na ansiedade, em stress constante, em depressão. Ninguém gosta de se sentir irrealizado, inútil. Ter amigos só aos fins-de-semana para jantares de descompressão e às segundas voltar a uma rotina que enfastia, que é dada viver porque dá menos trabalho seguir a maioria e deixar-se ir na corrente, porque até para construir uma vida realmente plena é preciso sabedoria, é preciso pensar.
E basta olhar à nossa volta para nos apercebermo-nos que é assim que a maioria vive: num estado depressivo e em constante ansiedade.
Pobres meninos ricos.