O sucedido não é novo, infelizmente, e todos os anos se fazem notícias sobre o tema e dever-se-ia fazer todos os dias para ver se de algum modo conseguir-se-ia chegar à vergonha desta gente. E porque estamos em dias natalícios e fala maior o apelo da família, a notícia é gritante.
Falo do abandono dos velhos desta sociedade. O abandono em hospitais. Velhos que passam a fazer parte da lista dos perdidos e achados como se de trastes falássemos…
Há coisas abomináveis e esta é, para mim, uma delas. Dá-me volta à barriga saber que há famílias com esta capacidade, sem qualquer pudor, de abandonar os seus idosos, coisas velhas que já de nada servem.
É uma vergonha desta sociedade ocidental. Uma vergonha quando se sabe que até nem são famílias desfavorecidas que o fazem, e, se assim fosse, seria talvez um acto de misericórdia, ao menos no hospital teriam cuidados e alimentos. Mas não. São famílias que vêm nos seus velhos familiares um incómodo insuportável que lhes estraga a vida (a vidinha…). Famílias dotadas de uma ingratidão enorme para com aquelas pessoas que, quer queiram quer não, fazem parte da sua história, do seu passado, são o príncipio daquilo que são hoje como pessoas.
É neste egoísmo profundo em que algumas pessoas estão mergulhadas. Não vêm que também aqui há uma forma de materialismo que não as deixa viver na plenitude humana, porque é nas relações humanas, sejam elas prazerosas ou um pouco mais sacrificiais, que está a valorizacão do ser humano enquanto ser superior, capaz de permanecer acima do passageiro, do supérfluo, do que apenas nos poderá dar um bem estar momentâneo.
E a pensar no lucro necessário que todas as coisas deverão dar, certas famílias, além de abandonar os velhotes, ainda lhes ficam com a sua reforma, justo pagamento de ter de os aturar.
Aonde está a consciência destas pessoas? Como podem dormir à noite? Como podem viver diariamente como se tudo fosse normalíssimo? Ou será que não? Ou serão estes actos desumanos reflexos de uma humanidade perdida? Reflexos de corações de pedra? Reflexos de uma vida triste, vazia?