Agora já está sol, hoje, o dia está luminoso. E lá vou eu passear, acumular um bocadinho de uma saborosa energia solar em tempos de frio.
Mas é no saber adaptar às situações que também está um pouquinho de felicidade, de conforto.
Gosto do frio excessivo e da chuva contínua que o Inverno nos dá, forma temporal que obriga a um casaco de “andar por casa” e umas meias de polar. De um sofá à espera de ser esmagado por um corpo preguiçoso, um corpo de Inverno. É neste tempo que apetece ficar por casa. E este “por casa” significa isso mesmo, vaguear de divisão em divisão, procurando o conforto esquecido de um canto acolhedor, formas diferentes de usar a cozinha sem cumprir horários de refeição. A cama que serve de palco de brincadeiras entre pais e filho.
Até que a mãe decide cumprir o papel de organizadora mor do seu castelo, “acabou a brincadeira”. E ao ócio do sofá dá-se lugar a arrumações de segundo plano que estão sempre à espera deste tempo pródigo de organizações do lar. A epopeia das arrumações dá lugar a uma outra: a das descobertas. Objectos esquecidos que afinal já estão a fazer falta há muito tempo e ninguém dava por ela. Papéis importantíssimos que não estão guardados como deveriam estar e onde a culpa morre sempre solteira, porque quem não os guardou também ficou esquecido como os tais papéis. Finalmente os nove rolos fotográficos da lua-de-mel (sim, foi no tempo da película) encontram lugar no albúm oferecido no ano passado por alturas do Natal… este só teve de esperar um ano para ser usado.
E afinal é tão bom ter tudo no sítio certo, com etiquetas invisíveis que indicam direitinho o lugar das coisas. Não há tempo perdido em procuras. Não há nada desarrumado porque tudo tem sítio conquistado em tempo de frio. E o que se conquista no Inverno está garantido como certo. O frio tem os pés na terra.